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Gertrude Himmelfarb, heroína dos conservadores

Gertrude Himmelfarb foi esquerdista comprometida. Tanto que conheceu seu marido, Irving Kristol, numa reunião de trotskistas no Brooklyn, quando tinha 18 anos. Juntos, formaram uma dupla e tanto no jornalismo americano do pós-guerra.

Inteligência. Humor. Elegância. Assim pode ser definida Gertrude Himmelfarb, a historiadora heroína dos conservadores. Nascida em 1922, morou em apartamento de único quarto em Bensonhurst, no Brooklyn.

Seus pais, Max e Bertha, judeus emigrantes que partiram da Rússia para os Estados Unidos antes da Primeira Guerra Mundial, conversavam em casa em ídiche. Eram donos de uma pequena fábrica de vidro que vendia artefatos para lojas de departamento. Faturavam pouco e quase viviam na pobreza. Chegaram a falir na Grande Depressão.

Contudo, a convivência familiar era de intensa atividade intelectual. Seu irmão, Milton Himmelfarb, em algum momento da vida se tornou ensaísta. O filho de Gertrude e Irving, Bill Kristol, foi o editor fundador do The Weekly Standard, influente publicação conservadora em circulação de 1995 a 2018. E a filha, Elizabeth Nelson, também chegou a escrever para publicações conservadoras. Mas é bom voltar no tempo para contar sobre os anos de formação de nossa autora.

Gertrude Himmelfarb: anos de formação

Gertrude se formou na New Utrecht High School, no Brooklyn. Sua carreira acadêmica promissora, entretanto, começou no Brooklyn College. Era tão empenhada que se formou em história, economia e filosofia. Paralelamente, estudou literatura judaica no Seminário Teológico Judaico.

Quando ganhou uma bolsa de estudos na Universidade de Chicago já estava casada com Irving Kristol, considerado o padrinho do neoconservadorismo. Kristol comandava a redação dos periódicos Commentary e Encounter.

Então casados, os jovens se mudaram para Chicago, onde Gertrude começou a frequentar a Universidade de Chicago. Sua dissertação de mestrado foi sobre Robespierre, orientada pelo renomado historiador Louis Gottschalk. Enquanto isso, Kristol servia o Exército dos Estados Unidos. E não é que ele teve como companheiro Saul Bellow?

Quando Kristol retornou, partiram para a Inglaterra. Himmelfarb ganhara uma bolsa de estudos do Girton College, da Universidade de Cambridge. Por lá, continuou sua pesquisa de doutorado sobre Lord Acton.

Grande influência

Mas foi Lionel Trilling sua grande influência. Dele surgiu a apreciação pelo conceito imaginação moral. Para Trilling, as maneiras, os costumes e a moral alcançam mais do que a política, por isso são temas mais importantes.

Explicando de forma simples, para compreender uma nação basta compreender seus artistas e escritores. Porque é por meio da literatura – e da arte em geral – que crenças e valores são espalhados.

Além de Lionel Trilling, Gertrude Himmelfarb, em seu tempo na Universidade de Chicago, conviveu de perto com Hannah Arendt, Friedrich Hayek e Leo Strauss, que marcaram seu pensamento. Ela mergulhou fundo em autores como Edmund Burke, John Stuart Mill, bem como no período vitoriano britânico.

Gertrude Himmelfarb: círculo dos intelectuais

De um lado as análises econômicas, de outro as políticas. Gertrude Himmelfarb ocupou a lacuna que escapava entre as duas: a da moral. Escreveu sobre mudanças de valores, de costumes. E sobre como tudo isso impactava a política e o futuro.

E como cresceu na classe trabalhadora, defendeu os valores burgueses – e também os vitorianos, apreendidos de Lord Acton – os mesmos que ajudaram sua família a se estabelecer nos Estados Unidos. São eles o trabalho, a temperança, a autodisciplina, a moderação, a lealdade e o respeito pela tradição.

Gertrude Himmelfarb também acompanhou a Segunda Guerra Mundial como uma obsessão. Não sem razão, evidentemente, porque além de suas raízes, estava em jogo muito do que estudava e já articulava como pensadora.

Logo depois da guerra, ela e Kristol voltaram para Nova Iorque, quando entraram de vez no círculo intelectual, principalmente o da Partisan Review, pequena revista que publicou personalidades como James Baldwin, TS Eliot e Hannah Arendt, só para citar alguns.

Morreu aos 97 anos, deixando o casal de filhos, cinco netos, cinco bisnetos e, claro, os inúmeros pensamentos que ainda atravessam o tempo e nos alcançam.

Uma das raras mulheres de sua geração a concluir um doutorado, ainda ocupou alto posto entre os mais importantes pensadores de sua época. Reconhecida pela profundidade e análises incisivas, foi a pensadora dos valores vitorianos, a heroína dos conservadores. Um nome para mergulhar fundo em sua obra, com urgência e afinco.

Sabia que a É Realizações tem um livro-ensaio sobre Gertrude Himmelfarb?

Escrito por José Luiz Bueno, chama-se Gertrude Himmelfarb – Modernidade, Iluminismo e virtudes sociais e faz parte da Biblioteca Crítica Social, que tem como coordenador o filósofo Luiz Felipe Pondé.

Gertrude Himmelfarb – Modernidade, Iluminismo e Virtudes Sociais, de José Luiz Bueno.

Além do mais, de sua própria obra temos três títulos: Ao Sondar o Abismo – Pensamentos intempestivos sobre cultura e sociedade.

Gertrude Himmelfarb
Ao Sondar o Abismo, de Gertrude Himmelfarb.

Imaginação Moral – Jane Austen e George Eliot, Burke e Stuart Mill, Disraeli e Churchill, Oakeshott e Trilling e outros

Imaginação Moral, de Gertrude Himmelfarb.

Os Caminhos para a Modernidade – Os iluminismos britânico, francês e americano

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