Retorno de Chernobyl, livro de Jean-Pierre Dupuy, trata-se de uma meditação filosófica acerca da maior catástrofe nuclear da história. “Ninguém volta incólume de uma viagem a Chernobyl.” É com essa frase que o filósofo francês abre a publicação.
A edição brasileira traz prefácio de Maurício G. Righi e ensaio de João Cezar de Castro Rocha. O volume integra a Biblioteca René Girard da É Realizações e aborda o pensamento girardiano sobre a racionalidade nas “falsas transcendências”.
Nessa obra instigante, publicada originalmente em francês em 2006, é possível perceber os desapontamentos e as frustrações do autor, que se debruçou sobre documentos oficiais, principalmente os divulgados pelo Fórum Chernobyl. Para Dupuy, essas informações são mentirosas e revelam os interesses políticos e econômicos por trás das narrativas e justificativas da tragédia.
A fatalidade, que aconteceu em 26 de abril de 1986, na cidade ucraniana de Pripyat, ainda hoje alimenta cadernos científicos e políticos mundo afora – assim como os de cultura, pautando livros, filmes e séries aclamados. Para Jean-Pierre Dupuy, entretanto, o que houve em Chernobyl não foi mero acaso, mas consequência de muitas decisões repletas de miopia, malícia e egoísmo. No discorrimento do tema em Retorno de Chernobyl, Dupuy tenta compreender o potencial que o ser humano tem de travestir a verdade.
Sobre o livro Retorno de Chernobyl
Em 2005, às vésperas dos vinte anos da tragédia, o filósofo foi para Kiev a fim de participar de um curso de verão dedicado à análise das consequências do evento. Ao retornar, continuou as pesquisas e revoltou-se com algumas descobertas. O livro apresenta as omissões, as mentiras e os oportunismos que há mais de trinta anos prevalecem sobre o assunto.
No decorrer do ensaio filosófico, Dupuy levanta alguns paradoxos de nosso tempo:
- O que ameaça, salva?
- A civilização tecnológica pode abrir mão da energia nuclear?
- Nossa curta visão foi também responsável por Chernobyl – e será responsável por outras catástrofes?
- Será que a arte serve à verdade quando a recria e a estetiza?
Retorno de Chernobyl provoca ainda reflexões sobre:
- Ética.
- Capacidade do homem de se adaptar a tudo.
- Indiferença e frieza do nosso tempo.
Confira alguns trechos de Retorno de Chernobyl!
“Cada qual, em todo os gestos de sua vida cotidiana, deve ter em mente a memória do desastre, medindo com regularidade e frequência o grau de radioatividade de sua casa, das flores do jardim, do leite de sua vaca e da lenha com que se aquece.”
“O que significa viver num espaço em que a estrutura é fractal, isto é, que em todas as escalas pode-se passar brutalmente de um local inofensivo a outro que é altamente radioativo?”
“As catástrofes maiores que tapam nosso horizonte serão menos o resultado da maldade dos homens ou de sua burrice do que de sua visão curta.”
“Entramos enfim na pequena cidade de Chernobyl, que outrora tinha 15 mil habitantes, mas onde só residem hoje, de modo intermitente, algumas centenas de trabalhadores nucleares, pois é necessário manter o que resta da usina e preparar o terreno para os trabalhos de construção de um segundo sarcófago que envolverá o primeiro, que, segundo se teme, pode desabar a qualquer momento, sem aviso prévio.”
“A civilização tecnológica não pode dispensar a energia nuclear, e os riscos que pesam sobre esta são o preço que temos de pagar para alimentar o crescimento. O fim justifica os meios. O problema, respondo eu, é que com excessiva frequência quem raciocina assim são aqueles que quebram os ovos mas não fazem a omelete.”
Leitura indispensável para compreender o mundo contemporâneo, esse é um exemplar que não pode faltar em sua biblioteca.
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