Da Divisão da Natureza, de João Escoto Erígena, é a mais nova joia entre as obras religiosas no mercado editorial, exclusividade da É Realizações.
Com tradução de Tiago Gadotti e apresentação de Sidney Silveira, a edição ainda conta com revisão técnica de Adriel Teixeira.
Desde sempre, entre os estudiosos da escolástica, especialmente aqueles que exploram além de dois ou três renomados nomes, João Escoto Erígena é amplamente reconhecido como um dos casos mais notáveis, sobretudo por essa obra que acabamos de lançar.
Em Da Divisão da Natureza, o pensador resgata a compreensão patrística sobre a autoridade e a fertilidade intelectual das Escrituras e desenvolve uma forma radicalmente cristã do neoplatonismo.
Para Erígena, cada ser presente nas coisas é, de fato, a própria manifestação de Deus, e é, assim como o Divino, intrinsecamente trino e irredutível.
O Livro I do Periphyseon, publicado na íntegra pela Coleção Medievalia, e coordenado por Sidney Silveira, estabelece os fundamentos da metafísica de Erígena.
Ao avaliar as categorias aristotélicas e recorrer às artes liberais, Da Divisão da Natureza evidencia o caráter inefável da Divindade.
Quem foi João Escoto Erígena?
João Escoto Erígena, também conhecido como João Escoto, foi um filósofo, teólogo e erudito irlandês do século IX.
Vivido no Renascimento Carolíngio – era de renovação cultural e intelectual na Europa Ocidental -, provavelmente nasceu por volta do ano 800, e faleceu por volta de 877.
Erígena é mais conhecido por essa obra, Da Divisão da Natureza, na qual desenvolve uma síntese notável entre o pensamento neoplatônico, a tradição cristã e a filosofia clássica. Sua abordagem explora questões complexas relacionadas à natureza de Deus, da criação e da relação entre fé e razão.
Uma das contribuições notáveis de Erígena foi sua interpretação da deificação, conceito que redescobriu a partir de fontes orientais.
Ele argumentava que todos os seres, incluindo a humanidade, participam da divindade, e que a união com Deus é o objetivo último da existência.
Sua obra influenciou o desenvolvimento do pensamento cristão e filosófico na Idade Média e teve um impacto duradouro na tradição escolástica.
Agora você tem a chance de conhecer a obra-prima de João Escoto Erígena numa edição bilíngue latim-português. Uma preciosidade que só a É Realizações oferece para seu público aficionado.
Leia trechos de Da Divisão da Natureza
“Parece-me que a natureza, por meio de quatro diferenças, divide-se em quatro espécies. A primeira espécie é a natureza que cria e não é criada; a segunda é criada e cria; a terceira é criada e não cria; a quarta nem cria nem é criada. Dessas quatro espécies, duas delas opõem-se a duas outras. A terceira opõe-se à primeira; e a quarta, à segunda. Note-se que a quarta espécie diz respeito às coisas impossíveis, cujo ser consiste em não poder ser.”
“Cremos, portanto, que Santo Agostinho estava certo ao dizer que as criaturas angélicas viram essas teofanias antes da geração dos seres inferiores. Portanto, não te perturbes porque dizemos que os anjos veem as causas das criaturas inferiores primeiro em Deus, e depois neles mesmos. Com efeito, muitas vezes na Sagrada Escritura, o termo ‘Deus’ não significa apenas a essência divina, mas também certo modo segundo o qual Ele aparece à criatura intelectual e racional, conforme a capacidade delas. Os gregos costumam chamar esse modo de teofania, isto é, ‘aparição divina’ .”
“Posso mencionar Máximo, monge e divino filósofo, que discorreu de modo elevadíssimo e sutilíssimo acerca dessa teofania, ao comentar os sermões de Gregório, o Teólogo. Diz ele que a teofania procede de Deus, e que acontece por uma condescendência do Verbo divino – o Filho Unigênito, que é a sabedoria do Pai, como que se volta para baixo, em direção à natureza humana criada e purgada por Ele – e uma elevação da natureza humana, que se volta para cima, em direção ao Verbo, por meio do amor divino.”
“Portanto, toda teofania, isto é, toda virtude, que nesta vida já aparece naqueles que foram considerados dignos de serem formados por ela, e que aparecerá na vida futura naqueles que hão de receber a perfeição da beatitude divina, não está fora do homem, mas dentro do homem, e perfaz-se pela união de Deus com o homem.”
“Porventura a teologia, que acabaste de mencionar, e que se ocupa única ou maximamente da natureza divina, não prova de maneira clara que só podemos saber, a partir da criação, que a natureza divina subsiste essencialmente, mas não podemos saber o que ela é? Como dissemos muitas vezes, essa natureza não só supera os esforços da razão humana, mas até mesmo os intelectos puríssimos das essências celestiais. Os teólogos puderam perceber que ela existe, contemplando as coisas que existem; que ela é sábia, contemplando as divisões das coisas em essência, gênero, espécie, diferença e número; que é vivente, contemplando o movimento inerte e a inércia móvel de tudo. Por essa razão, concluíram que a causa de tudo é três vezes subsistente.”
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