Contra um Bicho da Terra tão Pequeno

AUTOR:
Nogueira, Érico

PREFÁCIO:
Rocha, João Cezar de Castro

POSFÁCIO:
Catalão, Marco

Editora:
Filocalia

Gênero:
Literatura

Subgênero:
Literatura Brasileira

Formato:
14 x 21 cm

Número de Páginas:
160

Acabamento:
Brochura

ISBN:
978-85-69677-21-5

Ano:
2018
Tags:
sátira, política nacional, corrupção na política, novela (gênero literário), literatura contemporânea e Filocalia

Contra um Bicho da Terra tão Pequeno

R$49,90

Sinopse

Numa falsa república – porque fictícia e porque farsesca –, o presidente está prestes a implementar uma dramática transformação: aumentar os seus poderes declarando-se califa. Às suas costas, um grupo de políticos e de altos funcionários de Estado conspira a sua morte. Aliciam um seu antigo desafeto, certo poeta bucólico de quem roubara a esposa. O próprio presidente se arvorando em literato, a narração (que assume, em alternância, o fluxo de consciência dos três protagonistas: poeta, presidente e primeira-dama) conjuga uma retórica refinada e de ritmo inconfundivelmente poético com a revelação escrachada da torpeza em que vivem os habitantes do país. Poeta forjado no estudo dos clássicos, Érico Nogueira logra, nesta sua primeira novela, recuperar o espanto de Camões – originalmente direcionado à vulnerabilidade do ser humano, podendo sempre a cólera divina voltar-se contra esse “bicho da terra tão pequeno” –, mas agora o orientando à mesquinhez dos homens, e, ainda mais concretamente, à dos homens desta terra. Essa história de trapaças, hipocrisia e corrupção vai cativar você do começo ao fim.

  • Palestra

  • Saiu na mídia

    Matéria Contra um Bicho da Terra Tão Pequeno

    Uma Emulação de Tácito Desvenda o Brasil

    O Estado de S. Paulo | 21 de outubro de 2018

    Disponível em PDF

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SOBRE O LIVRO

“A história está próxima dos poetas; é mais ou menos um poema dissoluto” – diz a máxima de Quintiliano que serve de epígrafe ao exórdio desta novela. Denominado “Intenções à Guisa de Prólogo”, ele se compõe de três poemas que dão o caráter e o tom da história a ser contada. “O que o tempo demanda”, diz-se ali, não é mais a eloquência dos juízos bíblicos – “É vaidade”, “Do pó para o pó”, “Ranger de dentes” –, mas tão-somente “um papinho reto”. Já não se acredita que polir a poesia signifique polir a si mesmo, que pôr em ordem as palavras implique pôr em ordem as ideias. À poesia só resta a indiferença, e isto mesmo consiste em sintoma do padrão de valores a viger nesse tempo: “aqui, que o barulho é tanto / que santo e tonto é igual”. Pois é com um poeta que esta trama se abre, recebendo a censura de uma Comissão Escrutinadora de Obras Literárias Inéditas, a qual acusa em sua criação uma “afetada e arquidecadente obsolescência”, desprovida de “valor de uso ou de troca”. Que não se espere deste livro, no entanto, um mero desagravo aos poetas. A equação entre santo e tonto é pressuposta virtualmente por todos, e nesta história pode acontecer de um prêmio que leva nome de poeta inconfidente ser um canal de desperdício do dinheiro público; pode acontecer de um literato contemplado pelo mimo abdicar da sua antiga resolução de recusá-lo, pois afinal “é dinheiro de pinga” que “alguém ia receber”; pode acontecer de um artista em devaneio poupar ao Diabo o trabalho de propor-lhe um pacto, porque conclui espontaneamente que, se a boa poesia exige aniquilação e morte, então exige também o mal moral. Nesse país, até o presidente permite-se arroubos de poeta e, com a mesma desfaçatez, patrocina uma “singela emenda à constituição”, que haverá de transformá-lo em califa. Para evitá-lo é que uma conjuração se arma, intentando-se assassinar o presidente poetastro. Não que os conspiradores sejam, estes sim, cidadãos preocupados com a república: são, eles próprios, altos funcionários públicos, dependentes da máquina estatal – vigorando, nesse país, a regra máxima “O que é de todos não é de ninguém”. Em torno desse plano de regicídio – cujo desfecho, que se note, é inteiramente imprevisível – somos conduzidos, de maneira caleidoscópica, a partir da consciência e perspectiva dos personagens principais: além do presidente e do poeta bucólico, a primeira-dama, ex-mulher do poeta, que o trocara pelo político. O que esse itinerário faz ver é que, se Os Lusíadas lamentam a vulnerabilidade do ser humano, que, sendo “um bicho da terra tão pequeno”, jamais está imune à indignação celeste, é preciso reiterar e atualizar Camões: pequenas são inclusive as posições a que atribuímos glória; baixíssimas, as ações a que nos prestamos para gozar do poder de ocupá-las – e a terra a que pertence “um bicho tão pequeno” pode se nos revelar incrivelmente próxima.

É impossível interromper a leitura de Contra um Bicho da Terra tão Pequeno. Esta novela alucinante nos cativa porque é precisamente em seus elementos insólitos que ela mais se assemelha ao cotidiano. Nessa história tem policial que isenta carros oficiais da blitz e é promovido de cargo por isso; tem pessoas high tech declarando-se indígenas só para garantirem hectares e bolsas de auxílio; tem político que assegura o ingresso de uma conhecida na universidade negociando com o reitor a utilização de uma cota; tem doleiro articulando fuga para o exterior com parada em país vizinho e passaporte falsificado; tem candidato derrotado a presidente que pede recontagem de votos e apela à corte suprema; tem uma criança que é adotada pela avó porque sua mãe, apesar de adulta, é incapaz de educá-la; tem mortes inesperadas de pessoas próximas a políticos e queda de avião. Quando um político é surpreendido pela notícia de um crime, o que o choca não é o próprio ato mau, mas que este tenha acontecido sem que ele fosse o mandante. Quando outro político é considerado por um de seus pares “um homem de princípios”, é porque ele não é um amador intransigente, mas, antes, “um sujeito razoável com preço e meta”. Quando lampeja algo nobre, algo belo, como uma obra de arte, ela se reduz a um uso pouco nobre, pouco belo. A quarta sinfonia de Jean Sibelius é relegada a toque de chamadas no aparelho celular; Verdi e sua La Traviata são apreciados em vídeo, numa noite melancólica, enquanto se cheira cocaína; As Flores do Mal, de Baudelaire, são objeto de furto e acabam tendo como destino uma lata de lixo. Um secretário semiletrado abusa do latim para ornamentar a bajulação ao presidente. O palácio “de concreto e vidro” que deveria abrigar o chefe do executivo é tão feio que a primeira-dama se recusa a habitá-lo. É como se o patrimonialismo e o nepotismo tivessem correlatos até mesmo na estética: “Minifilhotes da construção principal posavam de esculturas”, diz o narrador ao descrever os jardins do palácio, e se pergunta: “o paisagista era filho do arquiteto?”. Poeta que tem como marca a emulação dos clássicos greco-latinos, Érico Nogueira aqui dá plena forma à aptidão que já se deixava ver em sua poesia – a de contar histórias. Magistralmente, ele combina o rigor do ritmo poético com a maleabilidade da fala coloquial. Tem a ousadia de dessacralizar a tradição para retratar com toda a crueza os vícios que pululam em nossa cultura. Mas o autor não restringe sua ficção a problemas datáveis, circunstanciais; é a História, e não algum de seus períodos particulares, o que segundo Quintiliano está avizinhado à Poesia. O orgulho, a inveja, o ciúme – temas perenes da literatura – também são reconhecíveis nesta história de mentiras, chantagens e corrupção. Apenas uma sátira genialmente construída como a de Érico Nogueira poderia escancarar a realidade do desencanto que vivemos.

 

Endossos

• “Érico Nogueira é um escritor do mal-estar contemporâneo. (...) [A esta novela ele traz um] ouvido atento, em que o torneio de frase não perde o sacolejo do ritmo da rua, e em que a mescla dos registros culto e popular cai como um riso deprecatório sobre nossas cafonices nacionais.” – Ricardo Domeneck, escritor e artista visual

• “Um final de desfecho imprevisível, de perfeita concatenação dos detalhes policialescos. (...) narração aliciante, provocadora (...) [Quem] começa não quer parar. Neste instigante romance, (...) Érico Nogueira nos traz uma (...) alegoria delirante de uma situação que hoje vivenciamos intensamente, com humor sarcástico e vivo murmúrio de perspicaz inteligência. (...) acariciando-nos os ouvidos benévolos, mostra-nos uma história de moldes brasileiros. Atenção, leitor: você vai se divertir.” – Cláudio Aquati, professor de língua e literatura latinas na Universidade Estadual Paulista (Unesp)

• “A consciência da defasagem, tornada tema e elaborada em forma, distingue a fatura (...) de Érico Nogueira (...), um leitor atento (e malicioso) da tradição. (...) [A] dicção farsesca predomina [em sua] prosa afiada.” – João Cezar de Castro Rocha, professor titular de literatura comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

• “[Érico Nogueira alterna] com rara perícia as incursões pelos gêneros lírico, épico e dramático (...), [construindo uma obra] vívida e surpreendente (...), [com] ritmos magníficos (...), precisão lapidar da prosa (...) [e] impressionante domínio da tensão narrativa. (...) [Este é] um romance que se lê como poema, em que cada frase reserva uma surpresa rítmica, uma imagem ousada, um achado verbal, e um poema que se lê como romance, com deliciosa sofreguidão, à espera do desenlace.” – Marco Catalão, poeta e doutor em literatura pela Unicamp

 

Curiosidades

• A descrição do país fictício de Érico Nogueira é, simultaneamente, um duro retrato da condição moral e política do Brasil, que tem sido radiografada pelo agitado noticiário dos últimos anos.

• Esta é a primeira ficção em prosa do autor, que já tem sido celebrado como um dos mais importantes nomes da nova geração de poetas brasileiros.

• O livro narra circunstâncias por completo pertinentes ao momento político nacional sem contudo apelar a estereótipos nem clichês.

• Érico Nogueira combina de modo admirável uma dicção poética que emula os clássicos latinos e um repertório de imagens e de situações que ilustra com acurácia os vícios de caráter predominantes no Brasil.

• Contra um Bicho da Terra tão Pequeno é uma novela envolvente e que pode ser lida de uma única vez, para deleite dos leitores mais vorazes.

• A obra vem a público sendo saudada – em forma de prefácio, posfácio e textos de orelhas e de quarta capa – por endossos entusiasmados, de importantes artistas e críticos: respectivamente, João Cezar de Castro Rocha, Marco Catalão, Cláudio Aquati e Ricardo Domeneck. 

 

SUA LEITURA SERÁ ESPECIALMENTE PROVEITOSA PARA:

• Público geral, atento à dramaticidade do momento político brasileiro.

• Admiradores da poesia de Érico Nogueira.

• Interessados em apropriações contemporâneas dos gêneros e estilos da literatura clássica.

• Apreciadores da nova literatura brasileira.

• Leitores de romances policiais, livros de história política ou ficções do gênero satírico.

• Professores de literatura brasileira contemporânea.

• Pesquisadores da tradição latino-americana da “novela del dictador”.